12 de setembro de 2009

Rezar vivendo...

Como tantas outras vezes, fui participar da Celebração Eucarística e, sem nenhum motivo especial, naquele dia cheguei mais cedo, faltando mais de um hora para o início. Entrei e sentei no último banco. Havia uma criança que brincava com os folhetos que encontrava pelos bancos, correndo de um lado para o outro. Sua mãe estava no banco da frente e, frequentemente, era interrompida pela menina que queria mostrar o que havia encontrado. Ficaram pouco tempo na Igreja. A menina saiu conduzindo a mãe, enquanto fingia ler o livreto de cantos que carregava consigo.

Quando ela passou ao meu lado, com certa distância, pensei que ela poderia chegar mais perto de mim e indicar alguma leitura, uma estrofe de canto ou alguma oração. Aliás, oração era o que menos eu conseguia fazer, enquanto estava na igreja. Olhando o vazio ao meu redor, lembrava o quanto vazias estavam também as pessoas com suas preocupações individualistas, seu ritualismo social, sua apatia com a realidade dos outros, seu distanciamento da vivência da caridade e da solidariedade, do vazio de Deus que muitos vivem. Aquela menina me chamou para rezar, pelo simples gesto de sair despreocupada da igreja, de viver a vida tentando e conseguindo ser feliz com poucas coisas.

Mas a ideia de que alguém poderia me despertar para a oração ainda não havia se perdido. Sabe aquelas vezes que você acredita que Deus fala através de alguma situação, de algo que você observa, através de alguma pessoa desconhecida?

Como tantas outras vezes, ouvindo o barulho que vinha de fora da igreja, fechei os olhos e contemplei o meu silêncio. E, devagar, em meio a tantos pensamentos, tentava rezar. Até aquela voz chegar de mansinho:

- Ei, moço!

Um rapaz, com aparência de cansado, chega ao meu lado e pergunta se podia ajudá-lo. Pediu dinheiro. A minha reação foi de convidá-lo a sentar-se do meu lado e apenas perguntei de que ele precisava. Disse que desejava voltar para casa e não podia pagar a passagem. Caso comum nas cidades de hoje: jovem sai de casa, deixa a família, vai em busca de trabalho em outro lugar e, não conseguindo, desiste e decide voltar para casa, mas não tem como.

Acompanhei-o, então, até a casa da secretária paroquial e, no caminho, diz que está com um amigo na cidade e desde manhã não se alimenta. Ele recebe um pouco de comida (aliás, um prato bem caprichado) e eu sou convidado a entrar para também experimentar um pedaço de bolo. Ele volta para fora. Eu entro.

Quando saí da casa, após comer meu bolo, procurei pelo jovem. Quando ele recebeu o prato de comida, havia combinado que falaríamos depois. Mas não o vi mais. Perdi a oportunidade de fazer mais... Nem o nome dele eu sei.

Assim como tantos outros, faço minhas orações todos os dias, e grande parte delas lembram os pobres e excluídos. De repente você pode estar pensando: “ele cumpriu o seu dever de cristão, ajudando um pobre”. Eu digo: deveria e poderia ter feito mais!

Está em nossas mãos a possibilidade de transformar o mundo, o nosso mundo e, embora tanto rezemos, pouco fazemos. Nossas palavras não têm encontrado a realidade. Tantas reuniões pastorais, tantos momentos de oração, tanta reflexão da Palavra ... e tão pouca vivência.

Ele recebeu o alimento, mas pouco ouviu a minha voz.

Reze comigo, mas da forma correta. Reze para que o mundo experimente a libertação que Deus nos quer dar todo dia e a gente não percebe.

Reze para que a minha e a sua oração se tornem vida.
Reze vivendo

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