23 de maio de 2015

Pentecostes, a colheita dos frutos do amor



50 dias depois: "Pentecostes" significa a festa celebrada sete semanas depois da Páscoa e sete dias depois da Ascensão de Jesus.

Os números não são por acaso. O sete é um número que lembra o perfeito, o completo. A Ascensão é celebrada 40 dias depois da Páscoa, e o quarenta representa o tempo necessário para se realizar algo importante. Esse conjunto de número somam-se ao 50. Para judeus, cinquenta dias depois da Páscoa é a Festa da Colheita.

Para o cristianismo, Pentecostes celebra o início da Igreja, mas falar apenas isso é muito limitador. Deve ser a festa da colheita dos frutos que o ser igreja significa. Se igreja somos cada um de nós, o Pentecostes é a celebração dos frutos que somos capazes de viver no dia a dia da Igreja de nosso ser.

Por que o Espírito Santo? Porque o Espírito é o de Deus, Deus-Amor. Todos somos a Igreja do Amor, do amor criador, renovador e santificador que nos faz imagem de Deus. Pentecostes em nossos gestos e escolhas, nas relações e nas decisões!

Giorgio Sinestri

20 de novembro de 2014

Carta aberta



Acima de tudo o amor!” (1 Coríntios 13,13)

Sonho é como semente, que precisa encontrar a terra e ser enterrado para ter condições de realmente se desenvolver. Algumas sementes se adaptam facilmente a qualquer solo. Outras, precisam de elementos específicos ou cuidados adequados. Um tipo não é melhor que o outro, apenas diferente. Resistente ou frágil, cada semente carrega em si a força da vida que lhe torna capaz, ao seu modo, de romper-se para explorar o solo onde está enterrada e dele sustentar-se. Sementes e pessoas têm suas semelhanças, mas não são a mesma coisa. O “tipo de pessoa” não permite saber, com certeza, qual o fruto possível, pois além do que se vê, existe o mistério divino.
Já se passaram mais de doze anos desde aquele dia em que decidi ingressar na vida religiosa, através da formação seminarística. Aliás, “seminarista” vem da palavra semente... Junto com a decisão, um sonho.
A vida vai abrindo estradas para nossos passos, mas se não caminhamos, o caminho por si não é capaz de nos levar ao destino. Mesmo com coragem de caminhar e toda a beleza que se revela pela estrada, também pedras, buracos, mau tempo, dificuldades, trilhas perigosas, assaltantes e desvios inevitavelmente vão aparecendo. Vai ser preciso descansar em alguma pousada ou, se ter a sorte de encontrar boas pessoas pra chamar de amigos, pode ser que se façam paradas mais longas em alguns abrigos.
E o semeador saiu para semear...” (Mateus 13, 3-9). Jesus uniu caminho e semente para falar da Palavra, a mesma Palavra que me seduziu desde criança e me provocou a assumi-la como condução para meu sonho. Jesus se identificou como “caminho”. Eu assumi ser cristão, e como seguidor, devo identificar o caminho que existe em mim também e onde estão caindo as sementes, os sonhos que formam o dom da minha vida.
Não se caminha sozinho. Pessoas o tempo todo cruzaram o meu caminho e muitas vezes interferiram na minha direção. Muitas são as pessoas que me trouxeram água quando o calor estava sufocante, me deram comida quando a fome me consumia, me ofereceram roupa para aguentar os dias frios e sombrios. Muitas pessoas ocuparam meu tempo com suas histórias, ou perderam seu tempo escutando as minhas. Muitas somente caminharam ao meu lado, até mesmo em silêncio. Outras espalharam sementes novas, de espécies que eu nem conhecia, que aos poucos foram crescendo e dando novas cores e cheiros no meu caminho. Já encontrei pessoas que ficaram pouco tempo comigo, outras que seguem de mãos dadas comigo há muito tempo. Já precisei parar de caminhar, porque a forte chuva e o vento atrapalhavam meus passos. Diante do perigo, algumas vezes foi preciso esperar.
O caminho parece não ter fim e muitas foram as vezes em que me deparei com encruzilhadas. Exigiram de mim um posicionamento, uma escolha, pois não se pode caminhar por duas estradas opostas ao mesmo tempo. Estou agora diante de mais uma dessas encruzilhadas. O caminho percorrido nos últimos anos, marcado por paisagens deslumbrantes e momentos importantes e felizes, que contribuíram imensamente para meu crescimento humano, afetivo, intelectual e cultural, agora me exige um posicionamento.
Junto a tantas alegrias e conquistas, algumas situações plantaram dentro de mim muitas angústias e até solidão. O acesso ao conhecimento da Teologia me possibilita olhar para minha fé de forma mais madura e convicta, reconhecendo que, para mim, muitas realidades da Igreja e sua hierarquia tomam direções contrárias ao que acredito e sonho quando exercem um poder centralizador.
Com a intenção verdadeira de aprofundar sentimentos e convicções, não exitei em trilhar o caminho da verdade e honestamente não escondi minhas limitações e contradições. A solidão foi presença constante, e reconheço meu movimento para isso em muitos momentos. Incoerências e desencontros marcaram também esse período mais atual. A distância da família e dos amigos, os conflitos internos cada vez mais consistentes, turbulosamente misturados por uma estrutura formativa massiva e às vezes omissa, que tem uma tendência a infantilizar e desresponsabilizar quando prefere, por comodidade, exigir o cumprimento de preceitos e a vivência de um comunitarismo, ao invés de gerar real comprometimento, foram se tornando um peso opressor e despersonalizante para mim, manchando minha vontade de perseverar.
Sou de uma geração que faz parte dos desafios da atualidade, com pais separados, parentes em diversas religiões e as cobranças do secularismo. O modelo atual formativo ainda não abrange com coragem essas realidades e faz exigências que não respondem a essa nova condição social, diferente dos moldes rurais e conservadores que formavam a Igreja. As particularidades de cada um se diluem em meio à tendência de um “apadronizamento”.
Embora o discurso não seja assim, na prática o que percebo é a tentativa de “formatar” todos num molde padronizado. “Ser comunitário” é a desculpa sempre usada para esconder uma formatação exigida. Não posso concordar com esse jeito de construir vocações nem ser conivente com um modelo que não dá resposta ao mundo de hoje, pois tende a provocar um isolamento da realidade e afastar das situações concretas da vida numa estrutura que protege e separa do “mundo lá de fora”. Não tenho motivações para me arriscar a isso. Não estou simplesmente condenando o modelo adotado, pois acredito na fraternidade solidária e na partilha dos bens, mas confirmando que não posso abraçar este “estilo religioso” da forma como se apresenta, diante do que sou e acredito.
As pessoas, os leigos de forma geral, ainda estão à margem de muitos processos da Igreja. A vida religiosa preserva e prioriza o comunitário, mas me parece defender isso de forma fechada em si mesma. Sob minha leitura, sinto que, em nome da instituição, ainda não se permite uma plena participação de todos. Quando ingressei na Congregação, o ideal do fundador de “ir ao povo” fez brilhar meu olhar de esperança, mas sempre que “fui ao povo” em contrapartida vinha um pedido para “ir menos”. Como concordar com o que contraria aquilo que sempre me fez dehoniano?
Diante deste quadro, assumo também minhas faltas no processo. Decisões e escolhas erradas foram assumidas por mim, mesmo que não as tenha tomado sozinho ou sem consultar opiniões de superiores. Porém, os resultados não foram compartilhados, ficando a responsabilidade dos erros apenas sobre mim. Não quero diminuir minha responsabilidade e as consequências, mas declaro a tristeza de sentir essa solidão no caminhar, num processo que não contruí sozinho, mas que somente a mim foram impostos os resultados. Se eu estiver equivocado, então que Deus me ajude a discernir e, interiormente, reconhecer que preciso mudar meu pensar.
Por esses motivos, e para não alimentar sentimentos negativos contra a Igreja e os dehonianos, que tanto reconheço como importantes na minha formação, nem com pessoas, que são responsáveis pelo que sou, então decidi deixar a vida religiosa. Comunico que não sou mais membro religioso desta instituição a que, certamente, sou sempre grato por todas as oportunidades e benefícios que me ofereceu, pois mesmo as situações negativas me servem como verdadeiro e rico aprendizado para uma vida mais plena e feliz.
Aos dehonianos minha gratidão e reconhecimento. São muitos os dehonianos que expressam com seu testemunho uma busca sincera pela vivência do carisma. Agradeço profundamente também aos tantos amigos e amigas formados em torno da fé, na certeza de que construíram em mim um pouco mais da imagem de Deus. Reforço o quanto o carisma dehoniano marca meu existir. A identificação com o projeto originário não deixará de estar presente na minha vida. Serei sempre dehoniano no coração, ouvindo os apelos deste carisma na hora de responder às exigências do meu existir. Seguirei em oração para que o carisma seja reencontrado e reassumido.
Não vou abandonar minha fé, nem a Igreja. Mas diante de questionamentos e inquietações, não posso assumir o papel de “representante” nem ser parte da hierarquia constituída e defendida como “bem divino”. É meu posicionamento, que espero não desmotivar quem acredita e aceita a hierarquia e afins, mas quero provocar a reflexão. Certamente, alguns não concordam comigo e têm o direito de pensar diferente. Busco pela vivência religiosa na sua essência e perceber privilégios e regalias, por vezes ainda defendidos por uma ala da hierarquia que sente saudades dos “tempos de trono”, me provoca a não fazer parte desse modo. Prefiro participar mais livremente e coerentemente com meu coração. Não me sinto suficientemente convicto a ponto de transmitir a totalidade de uma fé que não totalmente faz eco em mim. Para não me sentir mentiroso ou ir contrário à doutrina, prefiro não ser um porta-voz na hierarquia, mas uma voz que clama no mundo e pelo mundo.
Quero deixar evidente que os questionamentos são provocados por realidades do meu interior e não pretendo generalizar como verdades para todos. Fique claro que não sou contra a autoridade. Seria idiotice minha o ser, pois certamente é necessária em todos os sistemas sociais. Minha opinião não refere-se à sua constituição natural, mas nos modos que são exercidas e no poder concedido para garantir coisas que, sob minha opinião, não são necessárias para uma Igreja que procura pela fraternidade e pela justa solidariedade. Seguirei respeitando a quem de direito exerce seu ministério, mas prefiro viver de outro modo por acreditar ser possível um exercício de poder mais participativo e descentralizado.
Sei que esta carta não explica toda minha motivação, nem tenho essa pretensão, pois minha decisão é embasada em questões profundas e muito pessoais. Para mim, o modelo atual da congregação não responde suficientemente aos meus sonhos. Esses anos todos abriram meu coração e minha alma para buscas também em outros lugares e situações. Provocado para isso, prefiro responder a esses anseios fora do meio religioso institucionalizado. Não quero ser alguém que “mantém estruturas”, mas ser um agente livre para atualizar o amor de Deus nas novas realidades que o mundo impõem.
Escrevo para expressar um pouco do que sinto e acredito. São com os pilares da verdade, da solidariedade, da justiça e da diversidade que construo minha história. Acredito que cada pessoa é foco do amor divino segundo sua própria história e capacidades. Acredito que Deus não espera mudanças ou transformações nossas. Mudanças e transformações são movimentos nossos, em resposta à vida e seus ensinamentos, em resposta ao amor infinito de Deus. Deus ama. Simplesmente ama, e nos convida a aprender com seu amor. Fiz a experiência de não ser aceito como sou. Não posso seguir mutilando meu ser em troca de aceitação.
Tenho esperanças numa Igreja verdadeiramente de Cristo, que rompeu com aspectos do sistema religioso de seu tempo, hoje novamente incluídos por muitos por conveniência e conforto. A estrutura eu condeno com base nas minhas pessoais convicções e essa certeza me garante que, para muitas pessoas, a estrutura não causa qualquer inconveniente. Por isso, a diversidade é importante e necessária, pois garante que as mais diversas expressões de vida sejam contempladas e reconhecidas. Sem dúvidas, são muitos aqueles que buscam e vivem o cristianismo na sua essência e minha decisão é para preservar em mim mesmo essa convicção. Eu poderia continuar para fazer diferente, mas escolho sair para provocar reflexão.
Minha avó, que tanto reza por minha vocação, me provocou lembrando que “quem põe a mão no arado, não pode olhar para trás”. Justamente por não querer “abandonar o arado” é que preciso seguir adiante, respondendo ao amor de Deus que me chama sempre. Estava me sentindo sufocado, e “sem ar” não poderia continuar no “trabalho do arado”.
Sigo meu caminho. A semente do meu sonho já fincou raízes na minha alma. Sei que é um sonho plantado pelo próprio Deus em meu coração. Estou lutando para tornar esse sonho expressão do meu viver. Com essa certeza avanço em frente. Embora não mais no caminho iniciado há tantos anos, sigo escolhendo um dos caminhos oferecidos pela encruzilhada da vida que está diante de mim, mas sem mudar a finalidade do caminhar. Sigo em prece, unido ao amor que me criou. Seja o que for que farei, o farei integrado ao que acredito, ao seguimento do Coração de Jesus e na busca pela vivência concreta do amor.

Fraternamente,
Giorgio Sinestri
novembro 2014

www.educareforma.com.br/conteudo/carta-aberta

6 de novembro de 2014

Você visualizou. E agora?

O ‪aplicativo ‎Whatsapp‬ agora mostra quando a mensagem enviada foi visualizada. Isso foi anunciado no último dia 05 de novembro e está causando a maior polêmica entre os posts de diversas pessoas.

Mas, existem tantas coisas mais importantes que a gente visualiza e finge que não viu, não é mesmo? O ‪‎Papa Francisco‬ nos exortou na homilia do dia 06 de novembro: "A indiferença para com os necessitados é inaceitável para uma pessoa que se diz cristã."


Imagem: Jovens Conectados

22 de outubro de 2014

A salvação é para todos!



“Que todos sejam um.” (Jo 17,21)

Jesus Cristo é a chave de leitura para o cristianismo. Redundância à parte, essa convicção origina um dos conceitos mais importante para a fé cristã: a salvação. Normalmente, o conceito de salvação está ligado ao sacrifício de Cristo na cruz pela remissão dos pecados da humanidade. Essa ideia não encontra mais em si mesma um respaldo teológico. Dada a importância de Jesus, os primeiros cristãos já se movimentaram para considerar toda a criação e a razão última do ser humano sob a perspectiva de Cristo. A antropologia cristã compreende o ser humano como criado para a salvação, a tal ponto de não podermos excluir esta destinação última, sob pena de falsearmos a compreensão teológica do próprio homem. O objetivo central de toda pastoral da Igreja é a salvação e, na medida em que muda a vida e suas circunstâncias, deve a Igreja acompanhar tais mudanças com novas ações, condizentes com o momento histórico.

O atual pluralismo religioso exige uma nova perspectiva à noção cristã de salvação: como relacionar a confissão cristã da salvação única e universal de Jesus Cristo com a pretensão salvífica das outras tradições religiosas torna-se uma pergunta importante e com necessidade de reflexão séria.

Para tentar responder, pode-se partir da noção cristã de salvação. Na história do cristianismo, o núcleo originante desta noção está na experiência dos primeiros discípulos com a pessoa de Jesus, por si considerada salvífica, porém realizada de maneira plural e diversa, assim como foram as situações entre os discípulos e Cristo, historicamente enraizadas na experiência.

Salvação, no sentido teológico atual, significa a plenitude do ser humano, o sentido último da vida, a realização humana total, que acontece na vida concreta, no interior da história e percebida na fé. Como nenhum indivíduo realiza em si a plenitude da fé, segundo a concepção cristã é a Igreja universal o sujeito da fé. Um dos problemas enfrentados hoje é a separação entre fé e vida, fazendo com que a formulação de salvação de Cristo não corresponda às situações existenciais por nossos contemporâneos. Daí o desinteresse pela fé cristã, a busca por instâncias seculares ou mesmo a passagem para outras religiões. Embora não seja fácil estabelecer na expressão salvífica o equilíbrio necessário entre o transcendente e o imanente, é fundamental que tentativas sejam feitas.

O termo “salvação”, num sentido amplo, responde às aspirações e carências humanas, e por isso é o elemento central que justifica a existência e o sentido das religiões de modo geral. A fé cristã confessa que a salvação de toda a humanidade se deu na pessoa e na vida de Jesus Cristo e reserva a ela a exclusividade salvífica. A consciência de fé que temos hoje não mais atribui este “status” de Jesus exclusivamente à Igreja Católica ou ao cristianismo. O Concílio Vaticano II reconhece a salvação para os não cristãos, embora se limita à salvação dos indivíduos, sem considerar o valor salvífico das outras religiões em si mesmas.

Constata-se, evidentemente, que as experiências salvíficas nas diversas religiões diferem claramente uma das outras. A base antropológica comum se refrata numa multiplicidade de experiências devido ao contexto sócio-cultural e à tradição religiosa no interior dos quais se dão essas experiências, que são sempre contextualizadas. Como são diversas as experiências salvíficas, também o são as suas expressões.

Em todas as religiões há um elemento comum que busca a liberação das carências próprias da condição humana e de plenificação das virtualidades. Tomando-se a necessidade de uma compreensão condizente com o atual pluralismo religioso, pode-se refletir sobre a ação universal do Espírito Santo, sem fechar sua conceituação na perspectiva cristã, mas como um espírito que é derramado sobre toda a humanidade e “sopra onde quer”. Pode-se concluir que a ação do Espírito Santo não pode ser confinada ao interior do cristianismo, pois acontece segundo os contextos sócio-culturais onde acontece. Evidente que “Espírito Santo” é uma denominação cristã, mas sua significação pode ser lida à luz de especificidades religiosas.

Assim, pode-se concluir que a salvação e sua plenitude só pode ser Deus mesmo, única realidade que satisfaz a abertura ao infinito da transcendência humana. Naturalmente, as religiões não cristãs, como nem mesmo o cristianismo, são a expressão histórica límpida da ação do Espírito ou das experiências salvíficas, pois existe o erro e o pecado na condição humana. É importante respeitar os programas salvíficos de todas as tradições religiosas sem reduzi-las a meras fantasias nem totalizar alguma expressão religiosa como lugar pleno de salvação. Cada religião capta apenas uma perspectiva da realidade, por estar condicionada pelo seu horizonte de compreensão que a impede de captar outras perspectivas, de tal modo que cada salvação é verdadeira dentro de sua perspectiva, sem que as outras a contradigam.

Deus é a plenitude da salvação e Ele vai além de instituições religiosas ou conceitos doutrinais.


Texto referencial: Salvação ou salvações? Mário de França Miranda (1998)

25 de setembro de 2014

Mudar hábitos exige sacrifícios


Certa vez, um profeta e seu discípulo, estando em viagem, pediram pousada em uma das residências que encontraram ao longo do caminho. Na hora do jantar, foi-lhes servido como alimentação apenas um copo de leite. Era a única coisa que o dono da casa tinha para oferecer, embora todos que ali moravam fossem pessoas saudáveis, tanto os pais como os filhos.

A terra era boa, tinha bastante área para plantio, porém a família nada cultivava. Em toda a terra possuíam apenas uma vaca leiteira, de onde vinha o leite que sustentava toda a família.

Pela manhã, o profeta e o discípulo levantaram, agradeceram a hospedagem e continuaram viagem.

Um pouco adiante da casa, viram que a vaca pastava à beira de um precipício. O profeta, então, ordenou ao discípulo:
- Vá até ali e empurre a vaca para o penhasco.
O discípulo inicialmente relutou, mas como era obediente a seu mestre fez o que o profeta mandara e empurrou a vaca no precipício. A vaca morreu na queda e o discípulo ficou bastante consternado.

Alguns anos se passaram e o profeta e o discípulo voltaram novamente àquela região e novamente pediram pousada na mesma casa. Observaram, imediatamente, que alguma coisa havia mudado naquela família. Já se viam plantações ao redor da casa, animais pastavam no terreno, todos se movimentavam e ocupavam-se com alguma tarefa.

Na hora do jantar, lhes foi servida uma comida excelente, preparada com os alimentos colhidos da própria terra, o que foi motivo de orgulho para todos. Pela manhã, o profeta e o discípulo despediram-se da família e continuaram viagem.

O profeta disse então ao discípulo:
- Se não tivéssemos empurrado a vaca no precipício, essa família nunca poderia ter se desenvolvido, trabalhando e cultivando a terra que possuíam.

Essa parábola nos mostra que devemos expandir nossas habilidades para coisas novas. Só assim a empresa progredirá. Mas nos ensina também que mudar hábitos e comportamentos às vezes requer sacrifícios e rompimentos drásticos com os padrões de trabalho que adotamos.

22 de setembro de 2014

Com o lápis em nossas mãos...


A cada dia, a vida se transforma e sugere novos traços.
Em nossas mãos está o lápis.
Quando pedimos a Deus para desenhar conosco, certamente teremos os melhores resultados.
Talvez não saibamos compreender o processo do desenhar de Deus, mas esperar até o fim nos revelará um desenho completamente novo e surpreendente, cheio de sinais que revelam o próprio autor.
Bom será perceber um pouco de nós e de Deus, misturados.

Giorgio Sinestri

14 de setembro de 2014

Courage to plunge straight

Human beings are made ​​of dreams, achievements, discoveries... and of resignation. Jesus assures that losing our lives because of the Gospel is giving them full sense (cf. Mark 8,34-38). In this technological era, where the attraction is in novelties, we have lost the courage to plunge straight into ourselves. It is better to join indulgence and facilities. The less we suffer, the better. By the way, human suffering is increasingly seen as despicable and unnecessary. Everything that departs us from suffering is better! That’s why we are even more alone every day. Loneliness has made many people move away from the meaning of life, even if everything is at their disposal.

And what is the cause of the Gospel? What should we “lose our lives” for?

The whole life of Jesus had the purpose to manifest the humanity created by God. Created in his image and likeness, our essence is the essence of God: love. All that separates us from that, separates us from our achievements and happiness. Love has to do with depth, intimacy, guts . In the original language of the people of God who wrote the Bible, love has an intimate meaning with the uterus, precisely the organ that generates life. For the nurture of life, it is necessary to "invade" the deepest. Inside each woman are the conditions for the generation of life. Man as well needs to allow his intimacy to experience this "exposing" movement, get out of his hiding place to reach the woman. In this surrender, there is the chance of a new life. Beautiful teaching of God!

Now think with me: have you explored your feelings, plunging deep into what you really are? Have you allowed yourself to truly love, with all its intensity? Have you faced suffering as a teaching experience to discover yourself as a part of this Love-God?

While we only look for the facilities that keep us from our deepest being, we will be eternally unhappy and unable to realize, in life, that we are made for love, because we were generated from love itself.

While we run away from our essence, we will have a false and temporary peace that imprisons us in a world created to make us victims of trade and profit of few who, in order to also hide their frustrations and insecurities, exploit others to imagine themselves superior.

Our essence is hidden under lots of shells, which prevent the light of love that radiates within us from manifesting. It is precisely here that our suffering comes, since, in order to achieve our interior, many shells are to be overcome. They were glued to our being by these ideologies of easy pleasure and consumerism. If it were really the best for us, we would not be witnessing increasing cases of depression, suicide and existential emptiness, couples would live unity and loyalty with more force, because they would know how to recognize in others the real chance for life, the brotherhood which brings us closer to the Creator God would be the rule, not the exception, and true happiness would be in our hands, our feet, and our hearts.

May we have the courage to dive into an enchanting sea. At first, fear and insecurity can disrupt this trip. But be sure: the achievements will be forever!

Giorgio Sinestri, scj
Translate: Samira Spiller