14 de outubro de 2009

Não reeleja ninguém


Tem circulado pela internet um e-mail convidando a todos os cidadãos brasileiros a, nesta próxima eleição, não reeleger nenhum dos senadores que concorrem ao Senado Federal. Pode mudar a forma ou intensidade, mas a indignação está sempre presente dentro do peito de cada brasileiro. Está cada vez mais difícil aguentar os fanfarrões liderados por Temer e Sarney.

A campanha é uma ideia radical. Será que é capaz de assustar os caras-de-pau que habitam o oceano de carpetes, mamatas e ar-condicionado do Congresso Nacional? Resta uma dúvida: se não reelegermos ninguém, vamos eleger quem? Antes de tudo, é importante dizer que, mesmo tomando a atitude mais radical e extrema para demonstrar a nossa indignação é crucial preservar a instituição Congresso Nacional - uma conquista democrática que levou décadas, senão séculos para ser formulada.

Desculpem não emitir uma resposta concreta e formulada. De fato, não a tenho. Mas confesso que a campanha me instigou a pensar mais sobre isso. Pesquisando sobre o assunto, achei um comentário de um jornalista, Marcelo Soares, da MTV Brasil. Ele lembrava um lado da moeda que vale considerar: quem entra numa instituição responde aos incentivos que ela oferece.

Durante décadas, o poder se acostumou ao seguinte estado de coisas: o sujeito se elege e passa quatro anos em Brasília fazendo o que bem-entende, porque dificilmente tem alguém pra cobrar. Essas coisas só mudam a partir do momento em que eles sabem que estão sendo vigiados pela opinião pública, para a qual sua excelência Sérgio Moraes diz se lixar.

Dependia apenas da imprensa para o cidadão saber como se comportavam seus representantes eleitos, e a imprensa sempre cobre basicamente os mais proeminentes. Porque não dá pra cobrir tudo o que fazem os 513 deputados e 81 senadores.

Hoje, qualquer um pode ter acesso imediatamente às votações pela internet. O projeto Excelências, da Transparência Brasil, seleciona algumas votações e mostra como cada deputado votou, ao lado de outras informações sobre eles - incluindo os processos a que respondem.

Até 2003, os gastos de verba de gabinete dos deputados ficavam completamente fora dos olhos do cidadão. Até 2006, as declarações de bens entregues pelos políticos à Justiça Eleitoral não eram divulgadas. Até 2008, os gastos de verba de gabinete dos senadores eram uma informação usada apenas como chantagem de bastidor. Até 2009, as verbas indenizatórias informadas pelos deputados não precisavam apresentar as notas. Agora, depois do escândalo das passagens, isso também vai estar disponível para todo mundo ver.

Cada vez existe mais informação disponível sobre como suas excelências trabalham. Quanto mais informação fica disponível, mais demanda por informação passa a existir. Suas excelências estão sentindo isso. Nunca antes eles foram tão vigiados, e o desconforto com isso se traduz em discursos como o do deputado que não aguenta ser desafiado o tempo inteiro. Eles estavam acostumados a fazerem o que quisessem sem ninguém saber. Até porque muitos brasileiros não costumam lembrar sequer em quem votaram.

Confesso também que gostei da reflexão do jornalista. Ele encerra seu artigo assim: "Se você está descontente com os políticos que têm mandato, é do jogo democrático votar em um candidato novo. Não faz mal nenhum. A Câmara já costuma ter uma boa taxa de renovação - em 2006, 47,6% dos deputados federais eleitos não tinham mandato federal quando se candidataram.Nem por isso, a qualidade do serviço prestado pela Câmara melhorou 47,6%. Se tem alguma coisa que pode resolver o problema do Congresso atual, não será tirar todo mundo de lá por tirar todo mundo de lá. Tem que mudar os incentivos a que eles respondem. E a sua inação tem muito a ver com esses incentivos. Você pode fazer sua parte pra mudar esses incentivos, fiscalizando desde já quem já está no poder. E, quando eles forem pedir seu voto de novo, você vai saber exatamente por que eles não o merecem. Quando entrar um novo, você também poderá acostumá-lo desde o começo com esse bafo na nuca, pra evitar que ele se lixe."

Já pensou sobre o assunto? Deixe seu comentário. Prometo que tentarei segui o "debate"...

Giorgio Sinestri

3 comentários:

Anônimo disse...

OLá Giorgio! refletindo sobre este assunto posso dizer que sou desfavorável à reelenção. Porém, no tocante à esta campanha, parece-me evidente que se trata de jogada política. Quem está por detrás desta campanha? Alguns comentários cítricos, acompanhados de referências acertos nomes políticos, ligados a certos grupos políticos, me fazem concluir que se trata de uma briga pelo poder.(continua)

Anônimo disse...

...O fato de não reelegermos ninguém não resolve, nem ameniza o mal da corrupção. Este mal é estrutural e cultural. Estamos mal-acostumados e nos vangloriamos do "jeitinho brasileiro" que, muitas fezes vêm acompanhado de imoralidades em todos os níveis da vida humana.

J N P Neto disse...

Falar sobre a política nascional não é uma tarefa fácil pra mim. Possuo opiniões um tanto extremistas quanto a esse assunto devido a fatos passados. Infelizmente, no mundo capitalista ao qual estamos inseridos, a mais valia persiste fielmente como é, valores humanos, diretos, verdade... simplismente palavras presentes em vocabulários, geralmente utópicos, que os detentores do poder insistem em aclamar em seus discursos imutáveis. O poder ainda é tudo? Para muitos sim. Maquiavel, em sua obra, "O príncipe", soube como ninguem expressar os caminhos ao poder e, sem restrições, sua obra é seguida fielmente por grande parte aqueles que buscam o ápice do pedestal. O poder vale tudo! Para chegar até ele, as vias intermediárias não são significativas... será? Somos vistos como eupátridas, e, quando nossos "préstimos" não são mais necessários, somos marginalizados a thetas. Há uma grande mudança de valores atribuida a massa populacional no período ante e pós eleição... acreditar que sanariamos o milenar problema da corrupção do poder com atitudes simples pode parecer ingenuidade de nossa parte... há, de forma indubitável, a possibilidade de surgirem novos Sarneys que, mesmo sendo pressionados pela população, sabe que tudo acaba na "dança da pizza"... se não há impunidade, qual o motivo de ser correto? Antes de questionármos os políticos, é necessário analisar as ações do povo... quem reelegeria Sarney e cia? Fazer um exame de auto-consciencia pode ainda ser a forma mais correta de tentarmos minimizar a corrupção na política brasileria. A não permissão à reeleição poderia acabar por impedir candidatos honestos (são minorias, mas existem!) a prosseguir seu trabalho. Infelizmente, ainda falta na população brasileira o espiríto do bom eleitor... nossa memória é curta, e quatro anos são mais do que suficientes para que ocorra uma limpeza em nossa mente e, dessa forma, acabamos retornando ao ostracismo político...