22 de abril de 2010

Do que Deus é capaz?

Se minha fé deixa intacta a distância
entre mim, que me alimento bem, e meu irmão, que passa fome,
minha fé nada mais é que uma tentativa de enganar a Deus!
(Arturo Paoli)


A fé cristã testemunha que Deus é amor, é alguém que nos ama imensamente: mesmo sendo infinito, rebaixou-se à condição limitada do ser humano para expressar seu amor. Aproximou-se tanto que assumiu a nossa própria condição: aprendeu a obedecer no sofrimento (Hebreus 5,8), alegrou-se com a fé dos simples (Mateus 11,25) e andou pelas raias do desespero (Marcos 14,33). Nada do que é essencialmente humano deixou de ser vivido e sofrido por Jesus, com exceção do pecado.
Então, do que Deus é capaz, por causa de seu amor? Abaixar-se tanto a ponto de se tornar um escravo, o último dos homens. Jesus, o Deus Encarnado, aceitou morrer como um malfeitor, como um bandido, em solidariedade para com os inocentes da história. Nós hoje estamos tão acostumados com a narração da paixão de Jesus que perdemos a sensibilidade diante do escândalo que essa experiência de Cristo significa.
Em Jesus, Deus se fez sofredor, sedento de justiça; um Deus de bondade que corre atrás da ovelha perdida, que fica esperando a volta do filho pródigo e que se alegra mais com um pecador que se converte do que com noventa e nove justos que não precisam de penitência.
Foi em Jesus que Deus emergiu fraco e sem defesa, mas afirmando a liberdade das pessoas. Deus é amor. E todo amor verdadeiro vive da liberdade e da gratuidade. Cristo é o Deus que ama sem pedir algo em troca. Simplesmente ama.
A entrega total é seu ato mais sublime de amor. “Tenho sede”, disse Jesus na cruz. Mas sua sede não era de água, e sim de amor. Por isso, somos convidados, na liberdade, a saciar esta sede. Teresinha de Lisieux descobriu: “como poderia eu demonstrar o meu amor, na medida em que o amor se manifesta em atos? (...) Viver algum sacrifício, praticar gesto de delicadeza, pronunciar palavras de carinho... fazer as menores coisas por amor... Cantarei sempre, mesmo que as rosas tenham que ser cultivadas em meio aos espinhos. Quanto maiores e mais afiados forem os espinhos, mais doce será o meu canto”. Um coração capaz disso entende melhor o próprio Jesus.

Nenhum comentário: