18 de agosto de 2011

Catequese do Papa sobre a Oração - parte 10

Queridos irmãos e irmãs,

Estamos ainda sobre a luz da Festa da Assunção, que – como já disse – é uma Festa da Esperança. Maria chegou ao Paraíso e este é o nosso destino: todos nós podemos alcançar o Paraíso. A questão é: como?
Maria chegou. Ela – diz o Evangelho – é “aquela que acreditou no cumprimento daquilo que disse o Senhor” (Lc 1,45). Então, Maria acreditou, confiou em Deus e entrou com a sua na vontade do Senhor e este é, justamente, o caminho correto, estrada em direção ao Paraíso. Acreditar, confiar no Senhor, entrar na sua vontade: esse é o caminho essencial.

Hoje não queria falar sobre todo esse caminho da fé, mas só sobre um pequeno aspecto da vida da oração que é a vida de contato com Deus, isto é, sobre a meditação.

E o que é a meditação? Quero dizer “fazer meditação” daquilo que Deus fez e não esquecer seus tantos benefícios (cfr Sal 103, 2b).

Normalmente vemos somente as coisas negativas; devemos ter em nossa memória também as coisas positivas, os dons que Deus nos deu, sermos atentos aos sinais positivos que vêm de Deus e recordar disso. Então, falamos de um tipo de oração que na tradição cristã é chamada “oração mental”.

Nós conhecemos normalmente a oração com palavras, naturalmente também mente e coração devem estar presentes nesta oração, mas falemos hoje sobre uma meditação que não é de palavras, mas um ‘entrar em contato’ com a nossa mente no coração de Deus. E Maria é um modelo muito real.

O evangelista Lucas repete diversas vezes que Maria “conservava todas aquelas palavras, meditando-as no seu coração” (2,19; cfr 2,51b). Vale não esquecer que ela é atenta a todo aquilo que o Senhor lhe disse e fez, e meditava, isto é, tinha contato com diversas coisas, aprofundando-as em seu coração.  

Ela, portanto, que “acreditou” no anúncio do Anjo e se fez instrumento para que a Palavra eterna do Altíssimo pudesse encarnar-se, acolhendo no seu coração o maravilhoso prodígio do nascimento do homem-divino, meditou-o, ela concentrou-se na reflexão sobre aquilo que Deus estava operando nela, para acolher a vontade divina na sua vida e corresponder-Lhe. 

O mistério da encarnação do Filho de Deus e a maternidade de Maria é algo tão grande que requer um processo de interiorização, não é somente algo físico que Deus opera nela, mas é algo que exige uma interiorização por parte de Maria, que busca aprofundar na inteligência, interpretando o sentido, para compreender suas implicações e as consequências.

Assim, dia após dia, no silêncio da vida cotidiana, Maria continuou a acolher em seu coração os sucessivos eventos admiráveis dos quais ela era testemunha, até a prova extrema da Cruz e a alegria da Ressurreição.

Maria viveu plenamente sua existência, seus deveres cotidianos, sua missão de mãe, mas soube manter em si um espaço interior para refletir sobre a palavra e a vontade de Deus, sobre aquilo que chegava a ela, sobre os mistérios da vida de seu Filho.

Em nosso tempo, somos absorvidos por tantas atividades e empenhos, preocupações e problemas, normalmente essas coisas ocupam todo o espaço do nosso dia, sem deixar um momento para parar e refletir e nutrir a vida espiritual, o contato com Deus. 

Maria nos ensina o quanto é necessário encontrar nas nossas jornadas, com todas as atividades, momentos para nos recolhermos em silêncio meditar sobre quanto o Senhor nos quer ensinar, sobre como está presente e age o mundo e nossa vida: ser capaz de parar um momento e meditar.

Santo Agostinho compara a meditação dos mistérios de Deus com a assimilação dos alimentos e usa um verbo que ocorre ao longo da tradição cristã: “ruminar” os mistérios de Deus, isto é, fazer isso continuamente, ressoar em nós mesmos, porque nos tornamos família, guiando nossa vida, nutrindo-nos com o alimento necessário para nos sustentar.

E Santo Boaventura, referindo-se as palavras da Sagrada Escritura diz que “são sempre ruminadas para poder fixar com ardente aplicação de animo” (Coll. In Hex, ed. Quaracchi 1934, p. 218).

Meditar, portanto, quer dizer criar em nós uma situação de acolhimento, de silêncio interior, para refletir, assimilar os mistérios da nossa fé e aquilo que Deus opera em nós; e não somente as coisas que vão e bem.

Podemos fazer esta “ruminação” de vários modos, tendo, por exemplo, uma breve leitura da Sagrada Escritura, sobretudo dos Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, as Cartas dos Apóstolos, ou mesmo uma página de um autor de espiritualidade próxima a nós e ter mais presente as realidades de Deus nos nossos dias, talvez também nos reconciliando com um confessor ou diretor espiritual , lendo e refletindo sobre isso, apoiando nisso, buscando compreender, entender o que isso me diz, o que diz hoje, abrir nossa alma àquilo que o Senhor quer nos dizer e nos ensinar.

Também o Santo Rosário é uma oração de meditação: repetindo o ‘Ave Maria’ somos convidados a repensar e refletir sobre o Mistério que proclamamos.  Mas podemos nos concentrar mesmo sobre qualquer intensa experiência espiritual, sobre palavras que nos fizeram impressão durante comunhão da Eucaristia dominical. Assim, vocês podem ver que existem muitas maneiras de meditar e, assim, de estar em contato com Deus e aproximar-se de Deus, e, deste modo, estar no caminho em direção ao Paraíso.

Queridos amigos, a constancia de dar tempo a Deus é um elemento fundamental para o crescimento espiritual; será o Senhor próprio a doar-nos o gosto dos Seus mistérios, das Suas palavras, da Sua presença e ação, sentir como é lindo quando Deus fala conosco; isso nos fará compreender de modo mais profundo o que Ele quer de nós, de mim. 

Por fim, é justamente este o objetivo da meditação: nos colocar sempre mais nas mãos de Deus, com confiança e amor, certos que somente no fazer a Sua vontade seremos por fim realmente felizes. 

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