15 de abril de 2010

MENSAGEM DO SEMINÁRIO PASTORAL DEHONIANO MISSIO CORDIS


1. Inspirado pela Palavra de Deus e pelo amor do seu Coração o Seminário Pastoral Dehoniano Missio Cordis foi realizado de 07 a 13 de abril de 2010, em Brusque SC – Brasil. Estivemos atentos à proposta da Vª Conferência de Aparecida (2007) e do Congresso Americano Missionário de Quito – CAM 3 – COMLA 8 (2008), seguindo os passos de inculturação do carisma dehoniano dos dois encontros latinoamericanos: “Estar com o povo”, Santiago – Chile (1988) e “Com coração solidário”, Lujan – Argentina (2000) e em continuidade com o Seminário Theologia Cordis, Lisboa – Portugal (2008).

2. O Seminário Missio Cordis aprofundou as dimensões: um coração que escuta, aprende e anuncia. A linguagem simbólica do Coração de Jesus revela o desejo divino por amor, justiça, paz e manifesta a misericórdia de Deus para com seu povo. Esta reflexão nos inspira e motiva a viver o Evangelho de Vida com a opção preferencial pelos pobres e excluídos, a partir de um encontro pessoal e comunitário com o Cristo ressuscitado.

Um coração que escuta

3. A escuta dos desafios do mundo de hoje, feita a partir da Conferência de Aparecida, produz em nós a alegria de sermos discípulos missionários para anunciar ao povo o “Evangelho da Caridade”. Recebemos de Cristo a garantia de vida em abundância (cf. Jo 10,10). Esta vida é dom de Deus e queremos defendê-la desde a sua concepção até o seu fim natural. O chamado missionário preconizado pela Conferência de Aparecida (cf. A. 362) nos desinstala para uma ação evangelizadora de encontro, não apenas com os que desconhecem a Palavra de Deus, mas também aos batizados. Essa ação evangelizadora é inspirada no amor de Cristo que nos congrega e impulsiona.

4. O Coração de Jesus é lugar de encontro e exige conversão pessoal e pastoral. Para que essa conversão possa acontecer, colocamo-nos em atitude de sincera disponibilidade para a escuta. Entre os meios privilegiados para isso está a “Pastoral da Misericórdia”, que evidencia uma dimensão fundamental do nosso carisma. Também a experiência de acompanhamento pessoal aproxima os corações e permite um maior conhecimento das pessoas. O diálogo permanente com Deus nos dá força para estarmos com seu povo e não perdermos a capacidade de escutá-lo.

5. A atitude divina de escutar o povo e responder ao clamor através da mediação de um ser humano revela o mistério da solidariedade que acontece definitivamente na pessoa de Jesus. Deus se faz solidário com a humanidade que sofre, assumindo livremente a condição dos mais pobres e excluídos.

6. Como atitude prática estamos dispostos a ser pastores e não meros funcionários. Nossa ação solidária se realiza na união com Deus, com a comunidade dehoniana e com o povo. Não queremos esquecer que somos parte do povo e, justamente por isso, precisamos “sentir junto”. Afirmamos, ainda, que sabemos o quanto o anúncio da Palavra e a Eucaristia são formas privilegiadas de estarmos juntos.

7. Nos textos de Léon Dehon o verbo “escutar” aparece diversas vezes. Redescobrimos que a “não escuta” do Coração de Jesus leva aos males em que vive a sociedade e, por isso, queremos estar intimamente unidos a Cristo para compreender as necessidades atuais. Fiéis à escuta da Palavra e à “Fração do Pão” somos convidados a aprofundar cada dia a experiência da pessoa de Jesus e do mistério de seu Coração. Somente assim poderemos anunciar o Seu amor que excede todo conhecimento (cf. Cst. 17). Escutar é uma bem-aventurança (cf. Lc 11,28) e faz parte do “mandamento” do amor (cf. Mt 12,28). Nosso fundador ensinou a importância de perseverar num diálogo contínuo e inquieto. “Escutava e perguntava” (cf. Lc 2, 46).

8. Estamos motivados a redescobrir na prática do silêncio a escuta maior. Para isso, queremos promover mudanças em nossa maneira de agir, vivenciando momentos de silêncio, interiorização e reflexão. A Adoração Eucarística e a Lectio Divina são espaços privilegiados e motivadores deste “ministério da escuta”.


Um coração que aprende

9. Reafirmamos a importância da missão ad gentes. Porém, avançamos para o conceito de missão inter gentes que nos interpela a olhar o evangelizador não mais apenas como emissor, mas na dinâmica da relação. Nosso povo não pode ser visto apenas como destinatário e objeto da evangelização, mas interlocutor e sujeito. Nesta nova perspectiva já não basta ir ao povo; é preciso estar com o povo, anunciando e construindo juntos o Reino do Coração de Jesus nas pessoas e nas sociedades. Reafirmamos que a missão inter gentes está expressa na dimensão sint unum do nosso carisma, grande sonho ecumênico de Jesus, acolhido por Léon Dehon.

10. Nossa proposta concreta é que a perspectiva inter gentes faça parte integrante e contínua de nosso processo formativo. Precisamos encontrar a medida justa da solidariedade e reparação.

11. Bento XVI indica na encíclica Caritas in Veritate inúmeros traços do carisma dehoniano, especialmente no campo da Doutrina Social da Igreja, tão propagada por nosso Fundador. Já encontramos uma síntese semelhante em Léon Dehon entre Caritas et Veritas em seus escritos, como escreveu em seu Diário: “A verdade e a caridade foram as duas grandes paixões da minha vida e tenho apenas um desejo, que sejam os dois únicos atrativos da obra que deixarei” (NQT III/1887, 98-99). Como proposta concreta queremos incrementar a dimensão social em nossas comunidades religiosas, casas de formação, escolas, paróquias etc. A opção por parcerias é valiosa. Além disso, propomos estudos com o povo sobre a Doutrina Social da Igreja. É importante, também, incrementar a cultura da reconciliação entre nós como testemunho capaz de inspirar a transformação social em todas as dimensões.

Um coração que anuncia

12. Nossa ação pastoral e evangelizadora é um importante meio de concretizar o carisma dehoniano na Igreja Particular e na sociedade. Neste sentido as características fundamentais de uma paróquia dehoniana são a comunhão eclesial, a disponibilidade oblativa e a solidariedade reparadora.

13. A paróquia dehoniana é lugar privilegiado de comunhão eclesial. Vivemos a dehoneidade na diocesaneidade. Isso exige que estejamos em sintonia com o plano pastoral e a caminhada comum da Igreja Local, respondendo com o carisma de Léon Dehon nas atividades paroquiais. Esta comunhão é expressão de nosso sint unum, que acontece também na vivência de nossos projetos comunitários de vida. São sinais de fraternidade e vivência do carisma: partilha de vida, convivência de irmãos e caixa comum.

14. Nossas comunidades sejam missionárias, numa atitude de disponibilidade oblativa evangelizadora. Nossa maneira de anunciar o kerigma é o Coração de Jesus. Abraçamos com renovado ardor Missão Dehoniana Juvenil e os Leigos Dehonianos, que compartilham nosso carisma e fazem parte de nossa caminhada paroquial.

15. Sugerimos que, em nossas obras, seja difundido o “ato de oblação” diário, como expressão de nossa espiritualidade. Mais do que um apelo do papa à participação do que ele chama “rede de caridade”, é o ser amigo do Deus do povo e amigo do povo de Deus, que está cada vez mais inserido, neste novo território de missão, que é a internet. Reconhecemos também a necessidade de inclusão digital de nossas paróquias e casas de formação e alfabetização digital dos religiosos

16. A juventude é um grande desafio para nossa prática solidária. Propomo-nos a escutar e aprender com os jovens, promovendo a vida entre eles. Juntos assumimos também o acompanhamento pessoal dos jovens, cada vez mais influenciados pela sociedade de consumo. A juventude cresce marcada pelo individualismo e pelo imediato. Essa realidade exige de nós criatividade, novos caminhos e linguagem atual. Promover atividades vocacionais-missionárias entre a juventude tem apresentado respostas positivas. Sugerimos um encontro latino-americano de missão juvenil, como meio de encontrar caminhos comuns para as Entidades, fortalecendo o contato e a proximidade com a juventude. Para estar entre os jovens, teremos uma atitude de compreensão e acolhimento para entender sua dinâmica de vida e chegar ao seu coração. Entendemos que os projetos missionários juvenis e as atividades educacionais estão entre os nossos meios mais acessíveis.

Um coração que escuta, aprende e anuncia é sinal de esperança. As sementes do Reino já estão na terra. Na missão do coração somos despertados a estar junto de Cristo, fazendo do amor o coração da missão. Fica conosco, Senhor, para irmos e estarmos com teu povo!

Participantes do Seminário Pastoral Dehoniano Missio Cordis
50 dehonianos das Entidades BM-BC-BS-MZ-MAR-HI-VEN-AR-CG-CH-GE-URU-US.
Brusque SC – Brasil - 13 de abril de 2010.

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