11 de junho de 2012

Mais uma vez o amor...


Sei que falo bastante sobre este tema. Na aventura de escrever um livro, falei sobre ele. E tenho a certeza de que nunca deixarei de falar e buscar vivê-lo de verdade. Falo sobre o amor. tema tão eterno quanto desgastado; tão desafiante quanto banalizado; tão indispensável quanto tantas vezes sentido como supérfluo.

O que o faz tão fascinante e capaz de atrair nossa atenção é o fato de que sempre nos escapa. Não conseguimos esgotá-lo em uma definição qualquer. E isso porque o amor é maior do que nós.

O amor não é algo que possamos produzir, provocar ou instituir. Acontece para além de nós, antes de nós e mesmo apesar de nós. E tudo transforma: nossa maneira de ver o mundo, de perceber as coisas e as pessoas, de conhecer.

De qualquer ângulo a partir do qual olhamos uma coisa ou um evento ou uma pessoa, estamos sempre no centro. Tudo é visto e percebido sob o meu ponto de vista.

No entanto, quando o amor acontece em nossa vida, o “eu” não está mais no centro. O centro é o outro. Na verdade, o amor faz com que de repente nos percebamos no lugar de outro, sentindo com e pelo outro. É uma experiência que nos faz sentir-nos habitados por uma presença, como dizia Santo Agostinho, “mais íntima a mim do que eu mesmo”.

A tal ponto isto é verdade que, quando ama, o “eu”, ao querer estar consigo, tem que estar onde o outro está. Está totalmente descentrado. E neste momento não são apenas seus sentidos, ou sua razão que o ajudam. O “eu” se sente totalmente desamparado justamente porque percebe que nem os sentidos nem a razão o ajudam.

Pensar ou sentir sensorialmente não o ajudam mais nem lhe dão segurança sobre si mesmo. Ao invés, para sentir-se vivo, humano, pleno, o “eu” necessita não exercitar sua capacidade de pensar, mas sentir-se pensado por outro. E também querido, amado por outro. A partir do momento em que experimenta essa alteridade que o constitui como pessoa, percebe-se total e radicalmente modificado em sua percepção do mundo inteiro, de si mesmo e da vida em geral.

É então que os parâmetros se rompem: o da igualdade, o da simetria. A lógica da troca, dos direitos e deveres está estilhaçada, pois o amor tem o poder de inaugurar outra lógica: a lógica da graça e da gratuidade. É, em suma, a lógica do dom.

É apenas quando entra nesta lógica que o ser humano aproxima-se do ponto a partir do qual poderá ser digno deste nome. Pois enquanto o que impera é a lógica da troca, do mérito, dos sentidos despertos, ainda não se entrou naquilo que traz o selo da originalidade e que faz a criatura humana imagem e semelhança do Criador.

Pois o que distingue o Criador senão o fato de que amou primeiro? Quem é Deus senão Aquele que decidiu amar sem razão e em primeiro lugar, antes de qualquer sinal por quem é amado de que responderia ou corresponderia a seu infinito amor? Deus ama aquilo que ainda não existe. E o amor cria, faz do nada vida, faz existir. Assim também pelo amor o ser humano de certa forma “cria”, traz o outro à existência. A mais insignificante das criaturas é infinitamente valiosa e única aos olhos de quem ama, que a faz existir como bem amada, querida e desejada.

Entrar nesta lógica de desequilíbrio e gratuidade é uma ousada aventura. Porém é a única coisa que nos faz verdadeiramente humanos. Pois só aí estaremos refletindo, como um espelho, o Amor infinito que nos amou primeiro e que nos fez existir. Porque existimos, podemos amar, desde que consintamos em entrar na lógica sem explicação e fascinante do amor. O maior dom é o próprio amor. E quando este dom acontece, só fica o próprio amor que a cada minuto se reinventa e por isso reafirma em alto e bom som que a vida tem a última palavra.

Texto adaptado por Giorgio Sinestri

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