Recebi um comentário à reflexão "Oração, experiência de encontro com Deus" do sempre questionador, Anauri. Obrigado, amigo! Esse seu jeito inquieto me aproxima de você como amigo. Seu comentário diz o seguinte:
"Lendo esta tua reflexão surgiu um quetionamento a partir de uma afirmação
sua: somente em comunidade é possível perceber o amor de Deus. Eu concordo que na comunidade o Amor de Deus se manifesta de forma plena; porém, me surge a dúvida: é possível a manifestaçao de Deus em âmbito individual? Espero que
possas me ajudar! "
Quanto sua pergunta, penso assim: a ideia de que o amor de Deus é comunitário parece-me evidente. Sentir-se amado por Deus, embora seja uma experiência pessoal, precisa passar pela experiência comunitária.
Digo isso, diante da resposta que o próprio Jesus deu ao fariseu quanto ao maior dos mandamentos. "Ouvir!" (Mc 12,28-32) Pode parecer estranho em um primeiro momento, mas o chamado que Deus nos faz é justamente para estar atento ao seu amor, que nos ama primeiro e nos impele a amar. Embora seja divino, o amor só faz sentido ao ser-humano quando experienciado com o outro. Nesta perspectiva entendo que somente na comunidade esse amor é percebido. Isso não pode nos levar a limitar a ação de Deus, que é infinito. Se a expressão "somente" levar a isso, é melhor desconsiderá-la, de fato. Porém, a utilizei para reforçar que o amor de Deus, infinito, precisa se manifestar na comunidade.
Um amor individualista torna-se sentimentalista e superficial.
No final você muda seu questionamento: volta-se à manifestação de Deus. É claro que falar de Deus é falar de amor (lembremos da primeira carta de João, "Deus é amor"). Consequentemente, falar de manifestação de Deus é falar da manifestação do amor. E "amor de Deus" é "amor comunitário" - "amarás a Deus e ao próximo como a si". Deus E próximo. A sentença é única, não há divisão. É comunitária.
Quem busca um "sentir individual" do amor de Deus, se perde. Não percebe o total. Não é capaz de compreender o amor como Deus persiste em manifestar: amor que necessariamente faz-nos conhecermos a nós mesmos, nos impulsionando ao comunitário (II Cor 5,14).
Anauri, é difícil falar do amor. Talvez porque insistimos, muitas vezes, de relacioná-lo com sentimento. Amar é gesto, concreto, real, perceptível. Amar é gesto comunitário, como é a Trindade: um só Deus, partilhado em três.
Abraços,
Giorgio Sinestri, scj
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